Rainha de Katwe, de Mira Nair


FICHA TÉCNICA

2016 / 124 min / África do Sul, EUA

Direção: Mira Nair

Gênero: Biografia, drama, esporte

Elenco: Madina Nalwanga, David Oyelowo, 

Lupita Nyong'o


O filme Rainha de Katwe é uma cinebiografia sobre a enxadrista ugandesa Phiona Mutesi, uma jovem que nasceu na favela Katwe (maior favela de Kampala e capital de Uganda, no leste da África). As conquistas da enxadrista encantaram o mundo de modo que a mesma tornou-se símbolo de superação, pois além de conseguir destacar-se no xadrez num contexto de extrema pobreza, soube usá-lo como instrumento transformador de forma similar à metáfora presente no filme sobre o peão que avança progressivamente até tornar-se uma poderosa dama.


É um filme sobre xadrez, mas também sobre “como se pode desenvolver o xadrez para além do jogo” (SOUTO, 2020, p. 04-05) e de como a educação, sob diversas formas, pode criar oportunidades e evitar que jovens e adolescentes recorram a subterfúgios como drogas, prostituição, álcool, entre tantos outros. Assim sendo, os projetos que visam educar jovens e adolescentes, bem como desenvolver habilidades nos mesmos são indispensáveis principalmente em áreas com elevados índices de pobreza, criminalidade e evasão escolar. 


Essas e outras questões são bem caracterizadas no filme em questão, pois o mesmo ocorre no seio de uma das maiores favelas africanas e destaca “o reconhecimento do esporte como canal de socialização positiva ou inclusão social [...] projetos esportivos destinados aos jovens das classes populares, financiados por instituições governamentais e privadas” (NETO; DANTAS; MAIA, 2015, p. 110). Ou seja, sabe-se que o xadrez é um esporte intelectual e que pode ser usado em projetos de modo a explorar o lado lúdico-competitivo da mesma maneira que pode ser “instrumento educacional, e ao mesmo tempo motivar os discentes para a prática esportiva do jogo de xadrez mostrando que a atividade lúdica pode romper barreiras” (GUIMARÃES; SIMÕES, 2017, p. 03).


A vida de Phiona Mutesi é a prova do quanto o esporte, mais especificamente o xadrez, é capaz de mudar a forma que o indivíduo se relaciona com a realidade, isto é, além de proporcionar “o sentimento de pertencimento [...], laços de amizade, a busca por objetivos comuns, as responsabilidades assumidas, o apoio, a cooperação entre os jovens, a aquisição de maior força de representação na comunidade”, também proporciona a mudança “positiva de comportamento, com melhorias da autoestima, autoconfiança, independência e autonomia” (NETO; DANTAS; MAIA, 2015, p. 114). Essas mudanças e transformações são exploradas pelo enredo do filme quando Phiona e seus amigos ficam radicalmente encantados pelo xadrez logo após um simples professor apresenta-lhes o mesmo através de um singelo projeto que visava tirar jovens e adolescentes das ruas. 


Além dos benefícios já citados, vale ressaltar que o xadrez “é uma modalidade que não requer memorização e sim estratégias, análises e confiança na realização dos movimentos para se atingir os objetivos do jogo” e “os praticantes vão percebendo o desenvolvimento de suas habilidades, aprendendo mais com a derrota do que com a vitória” (SOUTO, 2020, p. 03). Essas são características que poucos esportes oferecem, pois há ensinamentos que extrapolam as dimensões comuns a outras modalidades esportivas, ou melhor, o xadrez além de educar seus praticantes para a vida, é capaz de melhorar “as habilidades de leitura, promover o desenvolvimento cerebral, exercita os dois lados do cérebro, aumenta seu QI, aguçar a criatividade, melhorar a capacidade de resolver problemas, entre outros” (GUIMARÃES; SIMÕES, 2017, p. 03).


De fato, fica evidente que o filme em questão, bem como sua personagem principal, oferecem um panorama indispensável para que compreenda-se o xadrez e o esporte como “ação educativa, devido ao potencial que as atividades esportivas, os jogos e as brincadeiras têm de educar promovendo, ao mesmo tempo, prazer e alegria [...], evitando comportamentos nocivos, tais como o fumo, álcool, as drogas e a marginalidade” (NETO; DANTAS; MAIA, 2015, p. 110-112). O xadrez é um meio viável para se fomentar o desenvolvimento humano através de seus conceitos, ideias e princípios.


Portanto, nota-se que o filme Rainha de Katwe é uma obra sobre xadrez, mas que retrata a realidade da pobreza sob a perspectiva da superação e da educação como forma de transformar a realidade de milhares de jovens e adolescentes sem acesso a espaços educacionais e culturais, assim como um fiel relato sobre a vulnerabilidade social e o desequilíbrio econômico que impossibilitam a experiência plena da cidadania, entre tantos outros problemas comuns àqueles que encontram-se em situação de "risco".


REFERÊNCIAS


GUIMARÃES, Douglas; SIMÕES, Mara. O jogo de xadrez como ferramenta educacional e seu benefício ao estímulo de inteligências múltiplas. IV Congresso Nacional de Educação - CONEDU, 2017. Disponível em: clique aqui. Acesso em: 27 de ago. 2021. 


NETO, Ewerton;  DANTAS, Maihana; MAIA, Eulália. Benefícios dos projetos sociais esportivos em crianças e adolescentes. Saúde & Transformação Social, v. 06, n. 03, p. 109-117, 2015. Disponível em: clique aqui. Acesso em: 28 de ago. 2021. 


SOUTO, Tielle. Uso da tecnologia no xadrez e suas interações no processo educacional dos alunos na educação básica. Anais do Congresso Nacional Universidade, EAD e Software Livre, v. 01, n. 11, 2020. Disponível em: clique aqui. Acesso em 25 de ago. 2020. 


Comentários