A Psicologia Financeira, de Morgan Housel


FICHA TÉCNICA

2021 / 301 pág / Rio de Janeiro

Autor: Morgan Housel

Tradutora: Roberta Clapp

Editora: Harper Collins

Catalogação bibliográfica: Economia, Educação financeira, 

Finanças, Psicologia

ISBN: 978-65-5511-110-1


A obra A Psicologia Financeira foi escrita com o propósito de ajudar as pessoas a refletir sobre vários eventos que influenciam a maneira que cada um compreende o dinheiro – finanças pessoais, investimentos, decisões de negócio etc. – argumentando que as mesmas são menos influenciadas por conclusões puramente matemáticas e mais pelos vieses comportamentais. As “lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade” defendidas neste livro nada têm a ver com o charlatanismo, as fórmulas mágicas, as falsas promessas de enriquecimento utópico ou outras ilusões que são vendidas na atualidade. 


O autor usa casos de algumas pessoas famosas e outras desconhecidas para apresentar exemplos que retratam a importância do fator psicológico para o delineamento de uma compreensão ampla sobre como as pessoas lidam com suas finanças. E, assim, já na introdução, O maior espetáculo da Terra, Morgan Housel conta o caso de um executivo que gabava-se de suas riquezas a troco de nada e perdeu tudo por causa dos altos gastos financeiros que fazia diariamente ao manter um padrão de vida insustentável no longo prazo, apenas com o objetivo de impressionar os outros


O caso mais interessante contado pelo autor é sobre uma pessoa comum, mas com um comportamento oposto ao do executivo. O pacato Ronald James Read nasceu na zona rural, trabalhou 25 anos em um posto de gasolina, passou 17 anos varrendo o chão como faxineiro e quando morreu “o ex-faxineiro deixou 2 milhões de dólares para os enteados e mais de 6 milhões para o hospital e para a biblioteca da cidade” (p. 13). Era um sujeito simples que vivia com extrema discrição, além de trabalhar como faxineiro e frentista nos Estados Unidos (EUA), com disciplina e paciência poupou e investiu suas economias de tal maneira que ficou famoso no mundo inteiro pela doação deixada para o hospital e para a biblioteca em que estudava com o objetivo de administrar melhor suas finanças pessoais.


A partir dos dois casos introdutórios, já nota-se que as considerações expostas n’A psicologia financeira são fundamentadas na concepção de que as pessoas possuem diferentes comportamentos quando o assunto é dinheiro, pois todo mundo é ancorado em pontos de vista opostos sobre o funcionamento do mesmo, isto é, “alguém que cresceu em meio à pobreza pensa sobre risco e recompensa de uma forma que o filho de um banqueiro abastado jamais conseguiria imaginar” (p. 23). Obviamente, da mesma forma que as pessoas pensam diferente sobre o funcionamento e a utilidade do dinheiro, também costumam julgar a forma que cada um obtém e utiliza suas posses. 


É um dos assuntos tratados no capítulo Sorte & risco, no qual Morgan Housel expõe como os indivíduos elaboram suas justificativas para julgar as próprias ações e as modificam para julgar as ações dos outros, em outras palavras, ele declara que percebeu como “o fracasso do outro é atribuído a más decisões, enquanto os nossos costumam ser atribuídos ao lado sombrio do risco” (p. 45); é relevante salientar que isso também ocorre quando as pessoas resolvem julgar o sucesso, a fama ou a riqueza dos outros. 


A sorte e o risco podem ser agentes decisivos para o sucesso ou fracasso de alguém, todavia, é sensato precaver-se contra o equívoco de pensar que a “totalidade de um resultado pode ser atribuída ao esforço e às decisões” e equidade para admitir que “nem todo sucesso se deve ao trabalho duro, e nem toda pobreza se deve à preguiça” (p. 49).


Em seguida, o autor examina os comportamentos irracionais das pessoas quando deixam-se influenciar pelas comparações sociais e esquecem de estabelecer o que é suficiente para si mesmas. Ou seja, acentua que mesmo as pessoas mais ricas fazem loucura com o próprio dinheiro quando esquecem que quanto mais se deixam influenciar pelas comparações sociais, mais se intensifica a insatisfação e a sensação de que Nada é o suficiente


Por outro lado, as pessoas que não dão muita importância para as projeções dos outros – comparações sociais – e disputas de ego, começa a perceber que “vai desejar menos se não se importar tanto com o que outros pensam”, além de discernir que “há uma luta diária contra o instinto de se exibir até o limite mais extremo e de acompanhar o que os outros estão fazendo” (p. 137). 


Evidentemente, sabe-se que “ninguém toma boas decisões o tempo inteiro. As pessoas mais admiráveis estão cheias de ideias pavorosas que frequentemente são postas em prática” (p. 102). Ainda assim, aqueles que sabem definir com mais clareza seus objetivos, estabelecer limites, discernir o quanto é suficiente para si etc., terá maiores chances de buscar o que realmente quer e evitará ser ludibriado com o que os outros dizem ou padronizam por meio de comportamentos fraudulentos. 


É um grau de interpretação que denuncia o óbvio sobre as pessoas e a sociedade, ou melhor, denuncia que “o mundo está cheio de pessoas que parecem modestas, mas que, na verdade, possuem fortunas, e de pessoas que parecem ricas, mas vivem no fio da navalha” (p. 129). Esta é uma das lições que, de certa forma, serve de fio educador para as reflexões do autor, visto que quando é contextualizada com o hábito de julgar o sucesso dos outros ou com a definição de objetivos pessoais (finanças, investimentos, decisões de negócio etc.), conclui-se que “em algum momento, você precisa escolher entre ser feliz ou ter razão” (p. 270).


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