Emburrecimento Programado, de John Taylor Gatto

Capa do livro

FICHA TÉCNICA

2019 / 136 pág / Campinas, SP

Autor: Jonh Taylor Gatto

Tradutor: Leonardo Araujo

Editora: Kírion

Catalogação bibliográfica: Educação,

Alternativas, Liberdade na educação

ISBN: 978-85-94090-30-0


O livro Emburrecimento Programado (1992) é constituído das observações de um professor em seus muitos anos de instrução em diversos tipos de escolas e mercado de ensino, esse professor é John Taylor Gatto (1935 - 2018), o autor do livro. Por conseguinte, Gatto chegou ao assunto do “O currículo oculto da escolarização obrigatória”, esse livro traz o exemplo de o professor de sete lições e traz comparação de comunidades antigas: umas que evoluíram afetivamente saudáveis e bem sucedidas pela valorização da sua autonomia e individualidade ao outro tipos de comunidades que evoluíram do pensamento progressista que é hoje sustentado pela “educação” que valoriza o pensamento universal e seu currículo técnico. Afinal, a reflexão de John é válida: perceber a engenharia social (sociale ingenieurs) na chamada escola, que faz com que as pessoas recorram a ocupação escolar para fins utilitaristas, e traz a análise de que não é para educar que procuram as escolas de forma ‘compulsiva” e é por isso que os alunos saem formados da escolarização com deficiências existenciais e com inteligência empobrecida.


No pré capítulo entende-se que se trata da narrativa das experiências de Taylor Gatto. É no primeiro parágrafo do autor apresentado pelo título “Sobre o autor” e logo após a própria apresentação dele “Estou aqui para falar sobre ideias, mas acho que seria útil falar um pouco sobre mim, para que eu me torne uma pessoa real, como você [...]” (p. 35). Uma apresentação formal, de proximidade com o leitor. Tal colocação é coesa com as definições do livro: não é um livro de ficção, é um autor real, um professor real, que observou situações reais nos “locais da educação”.


Adiante tem-se o primeiro capítulo O professor de sete lições, que descreve o currículo nacional em sete tópicos, entende-se que esses tópicos têm títulos paradoxais, pois possuem sentido contrário, melhor dizer ‘antitético’, bem como essa ordem que informa o que um professor “deve ensinar”: 1) Confusão  2) posição de Classe 3) Indiferença 4) Dependência Emocional 5) Dependência Intelectual 6) Auto-estima provisória 7) Não é possível esconder-se. No entanto, todas essas qualidades negativas são atribuídas, no processo da escolarização em massa e o estancamento da criatividade e autonomia, pois no fundo a escolarização não irá lapidar as habilidades ou inclinações de muitos alunos de modo singular e individual: é “preciso”, na verdade, que essa escolarização contenha as pessoas para um fim. 


Logo, a partir da compreensão dessas sete lições entende-se mais ainda o que Hannah Arendt descreveu sobre sistemas de controle, na nota do editor há essa seguinte frase da filósofa: “o objetivo da educação totalitária nunca foi incutir a convicção, mas sim destruir a capacidade de formá-la”.[1] Desse modo, segue as sete lições.


A primeira é a confusão, é um ensinamento que se dá em razão do excesso de informações que são descontextualizadas do mundo real, em função disso há a falta de ordem, já que o que se forma com esse excesso é “sair com um kit de jargões superficiais derivados da economia, sociologia, ciências naturais (e assim por diante) do que com entusiasmo genuíno por um assunto” (p. 44). Além disso, outro ponto interessante, é que as crianças vivem entre “adultos que elas não conhecem” e que estão “fingindo uma especialidade que não possuem”. No entanto, o professor deve tonificar essa realidade e como? ensinando os alunos “como aceitar a confusão como seu destino” (p. 44). Por conseguinte, tem-se o ensino da posição de classe, onde faz-se o “rankeamento” do desempenho dos alunos (na maioria das escolas do norte da américa é assim), então o que tal convenção como essa pode dizer? O que se afirma nesse trecho: “todos têm o seu devido lugar na pirâmide e que não há como sair de sua classe, exceto pela mágica dos números.” (p.45) - os “números” são as notas “avaliativas".


Eventualmente, problemas contemporâneos como a falta de responsabilidade individual, da indiferença, são expressados com veemência e como são resultado de uma repetição da escolarização do ensino a indiferença, o professor diz “ensino as crianças a não se importarem muito com nada” (p. 45), mas no fim precisam “parecer que se importam”. Isso ocorre, porque os alunos passam o trajeto das aulas forçados as atividades que sempre serão interrompidas consecutivamente, ou seja, a única forma da escola é fazer com que no momento do ensino a campainha incomplete a atividade, por isso, em pouco tempo para tanto conteúdo tudo se faz às pressas e com isso gera a indiferença entre todas as atividades. 


A dependência emocional também é discutível em relação aos incentivos e reprovações que os alunos recebem no ambiente escolar, pois “através de estrelinhas, riscos de caneta vermelha, sorrisos, testas franzidas, prêmios, honras e desgraças” (p. 46), onde está a liberdade e a vontade das crianças sendo manifestada? Por vezes há situações em que ela está no ato dos alunos pedirem indiscriminadamente para ir ao banheiro, apenas pela privacidade e não para a necessidade. Há uma adaptação forçada dos alunos: eles não devem se irritar, ou ter problemas, e se têm, são nas circunstâncias que na maioria das vezes são ignoradas. 


Assim, há também a quinta lição do professor, que é ensinar a próxima, a dependência intelectual, essa característica faz parte da maioria das pessoas desta época contemporânea onde há tantas instituições para dizer às pessoas o que elas devem fazer, tiram-nas a competência para trazer-lhe-as um especialista para dar as suas respostas e instruções, assim como “bons alunos esperam os professores dizerem o que devem fazer” (p. 46) e os alunos menos afetados podem ser os que têm “pais responsáveis que as apoiem” (quer dizer, ter pessoas que se preocupam com a autonomia da criança), com a exceção dos pais que foram “escolarizados” e “aprenderam as sete lições” e não se questionam sobre as instituições. 


Junto a essa lição, há a autoestima provisória, outro ensino estabelecido pela falta de segurança das pessoas e “A ecologia da ''boa” escolarização depende da perpetuação da insatisfação, assim como a economia comercial depende desse mesmo fertilizante” (p. 48). Quer dizer, que no geral as pessoas precisam dessa aprovação de uma autoridade maior do que considerar o “valor que têm” por si mesmas. A última lição é Não é possível esconder-se, tudo está sob controle da escola, porque “os alunos estão sempre sendo observados” e não há espaço para privacidade, pois até na própria casa a “vigilância” chega em forma de “dever de casa”, além de outros formas que quebram o sigilo doméstico: a confidência familiar.


Sobretudo há o capítulo A escola psicopata, foi o conhecido discurso Prof. Gatto ao receber o prêmio de “Professor do ano da cidade de Nova York”. Onde se detalha o tempo perdido na escolarização e em razão de que? Pois o aprender é básico, Gatto descreve que em “cerca de cem horas  são suficientes para se ensinar a ler, escrever e fazer contas aritméticas" (p. 51). Neste capítulo, Taylor contabiliza as horas que seus alunos perdem no trânsito a fim de ir à escola e por quê? No fim, a lição do livro é fazer pensar em ensinar a alegria de viver e saber que hoje existe “seres humanos… incapazes de preencher suas próprias horas, incapazes de iniciar diretrizes de sentido para dar substância e prazer à própria existência” (p. 62), isso é consequência de viver em “rede operacionais” e assistir televisão em excesso nas horas livres.


NOTAS


[1]. Hannah Arendt, Totalitarianism. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1968, p. 168. 


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