Saudade de Ouro Preto, de Dilermando Reis


FICHA TÉCNICA

1968 / Disco / Brasil

Gravadora: Gravações Elétricas S.A.

Selo: Continental (3) – PPL-12.353

Formato: Vinil, LP, Álbum, Disco, Mp3 etc.

Intérprete: Dilermando Reis

Gênero: Latin, Classical

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O violão, em sua musicalidade pura, mesmo quando o audível se cobre de ruídos e chiadeiras em matéria de gravações, parece ter sido criado para representar a linguagem sonora e o significado interior dos simples. Nos limites da matéria, essas obras possuem o imaterial. 


Dilermando Reis batiza o seu disco com o nome de Saudades de Ouro Preto (1968). Mas é uma saudade que transcende o particular: não é uma espécie particular de saudade, nem singular, é o gênero supremo da saudade. Toca a todos os que sofrem e se queixam, os que precisam fugir da realidade transitiva e contemplar a realidade absoluta. 


É este violonista, Dilermando Reis, que faz da melhor forma a beleza se revelar nas almas dos que acreditam na poesia das frases musicais. O que importa aqui é a obra musical como obra do espírito.


O que dizemos é tão verdade que o mundo inteiro cerrou os sentidos externos para ouvir com os sentidos internos e alcançar a beleza inteligível, implícita nas formas puras de um violonista simples e brasileiro que toca em cordas de aço e madeira de pinho — coberta de vernizes. 


Ora, o próprio David Russell, um dos maiores virtuoses da atualidade, reconhece a verdade do nosso violonista de aço quando o interpreta nas peças Se Ela Perguntar e Xodó da Baiana, no seu álbum Aire Latino (2004). A primeira, uma das mais belas peças do violão brasileiro, de simples harmonia e elegante melodia; na segunda, o grande destaque acontece por meio das fórmulas rítmicas, pois revela um dos traços musicais mais tradicionais do Brasil.


Neste Brasil, o violão não tem tido a seu serviço exímios ouvintes, mas exímios intérpretes e compositores não nos faltam. Se algum dia for escrita a história de nossos ouvintes, certamente seremos condenados pelos mais sensatos escritores, pois a nossa cultura vigente desprezou o virtuose de gosto apurado que soube revelar ao mundo as melhores melodias e a alma do povo brasileiro, apropriadas para violão. 


Romântico, espontâneo, alegre por vezes e tristonho muitas vezes; aí está para vocês a nossa saudade em cordas de aço, uma “Saudade de Ouro Preto” que melhor seria chamada “Saudade do Mundo Inteiro”...


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