Violões do Brasil, de Luiz Roberto Oliveira


FICHA TÉCNICA

2004/ 02 CDs / Brasil

Gravadora: Independente

Direção: Luiz Roberto Oliveira

Coordenação executiva: Myriam Taubkin

Assistente de produção: Clarissa Knoll

Fotos: Angélica Del Nery

Projeto gráfico: Moema Cavalcanti


O disco Violões do Brasil é um panorama inédito sobre o violão e seus principais violonistas do país. De maneira sumária, o ouvinte depare-se com a história do violão brasileiro através de suas mais renomadas peças, percorrendo dos violonistas mais antigos aos mais atuais; relembrando mestres como Dilermando Reis, Villa-Lobos, João Pernambuco, Américo Jacomino (Canhoto), Baden Powell, Luiz Bonfá, Garoto, Radamés Gnattali, Raphael Rabello, entre outros.


Os violonistas e, neste caso, intérpretes que dedicaram-se à performance das obras dos mestres brasileiros, tratam-se dos dezoito principais gênios do violão no cenário nacional atual – entre eles, destacam-se Duo Assad, Alessandro Penezzi, Fábio Zanon, Guinga, Marco Pereira, José Menezes, Paulo Bellinati e outros. O interessante é que cada artista escolheu duas obras: uma atual e outra de um mestre do passado e, deste modo, apresenta-se o violão sob duas das três faces do tempo, isto é, passado e presente. 


É de vital relevância destacar que ainda nos dias atuais, nota-se com facilidade resquícios do sintoma descrito por Alberto Heinzl (1964, p. 15) ao comentar que o seu “caráter de instrumento popular de acompanhamento, muito fácil de ser aprendido nesse sentido, afastou durante muito tempo o violão de nossas salas de concerto”, visto que “um concerto de violão chegou, em alguns lugares, a ser considerado como uma curiosidade”, revelando a insipiência do público – e até de muitos violonistas – quanto à amplitude e autonomia deste instrumento no âmbito musical.  


Veja bem. É fácil o estudante de violão solo deparar-se com o espanto dos ouvintes que, quando expostos perante uma peça de violão solo, interrogam de forma exclamativa: — Cadê a letra?! Isso acontece pelo fato de que raramente, assim como no passado, a sociedade têm a oportunidade de ouvir bons intérpretes (HEINZL, 1964, p. 15); não pelo fato de não haver bons intérpretes como era mais comum no passado, mas pelo desconhecimento generalizado sobre os distintos papéis entre o violão de concerto e o violão de acompanhamento. 


Assim sendo, o disco em questão revela ser um itinerário de extrema pertinência instrutiva para o público geral começar a familiarizar-se com peças musicais que são composições exclusivas para o violão solo, conscientizando-o para o fato de que as peças solistas são tão capazes – e até mais – de expressar afetos, emoções e sentimentos. É preciso menos do que o ouvinte pensa quando depara-se com os primeiros desafios de ouvir música deste gênero, bastando que o mesmo habitue-se à escuta atenta do instrumento, captando suas frase-solos, padrões e harmonias de modo a reeducar sob novas possibilidades a forma de se relacionar com a música, especificamente, a música para violão concertista. Ao fim e ao cabo, a insipiência do público para estes gêneros musicais é, até certa medida, ocasionada pela mesma falta de conhecimento que os torna reféns da cultura de massa[1].


Algumas peças como “Pulo do gato”, de Paulo Bellinati; “Violão de fole”, de Maurício Marques; a elegantíssima “Pot-pourri Suíte Nordeste”, de João Lyra; “Visitando o recife”, de Canhoto da Paraíba; “Mafuá”, de Armando Neves; e “Se ela perguntar”, do inconfundível Dilermando Reis; todas elas e as demais, revelam um pouco da dimensão musical que o violão é capaz de proporcionar sem a necessidade de qualquer outro instrumento ou artifício vocal. 


Portanto, nas peças que constituem o conteúdo sonoro deste disco, constata-se um trabalho que dar continuidade ao processo que veio se desenvolvendo nas últimas décadas – que é tirar o violão da função servil de acompanhamento e da simples transcrição de peças clássicas, visto que até há pouco tempo “a maioria dos nossos compositores violonistas, tendo estudado harmonia ao piano, compunham atendo-se às regras tradicionais, sem objetivar o violão na sua obra”, fato este que resultava numa “longa série de músicas que mais parecem transcrições, devido a dificuldade de execução e ao pobre aproveitamento dos recursos violonísticos propriamente ditos” (HEINZL, 1964, p. 15). 


NOTAS


[1]. Para saber mais sobre a cultura de massa e suas consequências, acesse a crônica O que é música?. Disponível em: clique aqui.


REFERÊNCIAS


HEINZL, Alberto. Violão sem misticismo. Revista Violão e Mestres. São Paulo: Magazine, n. 01, p. 15-16, 1964. Disponível em: clique aqui. Acesso em: 03 de set. 2021. 


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